terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Rapaz do Cachecol às Riscas

História fictícia 
Autor: Lexie Rach
Capítulo 1 - O primeiro olhar


O meu telemóvel começou a tocar. Onde raio estava o meu telemóvel? Só podia estar na minha mala. Vasculhei a mala de um lado ao outro. Era a Cátia:

- Estou?
- Dani, esta noite jantarada, ok?
- Jantarada? Onde?
- Diz só que sim, depois eu aviso-te onde é para estar.
- Está bem então, eu vou, chata.
- Linda menina. Até logo.
- Até logo chata.

Estranho! Decidiu organizar um jantar assim num instante porquê? Não interessava, ao menos dava para descontrair e para tirar o Fausto de vez da minha cabeça ou não fosse eu a Daniela. 
O telemóvel tocou outra vez, quem seria desta vez? Era a Inês:

- Diz linda.
- Vais hoje ao jantar que a Cátia está a organizar, Dani?
- Sim, ela acabou agora de me ligar.
- Fixe, vamos aos gajos?
- Óbvio, sabes bem que preciso de novas distracções.
- Pois o Fausto não te merece. Acho muito bem que sigas em frente.
- Também preciso de dar curvas, senão ainda vou contra uma árvore.
- Parva! Vá, até logo parva.
- Até logo.

Fiquei a pensar sobre o "seguir em frente". Era o melhor a fazer, mas porque é que o Fausto não saía de vez da minha cabeça? Era tão mais fácil. 
Libertei um "que se foda" e fui-me arranjar.
...
Estavam-se a aproximar as 8 horas da noite e a Cátia continuava sem me dizer nada. Decidi mandar-lhe uma mensagem para saber novidades.
"Então? Esse jantar é aonde?"
Ela respondeu:
"Daqui a meia-hora, à frente da Câmara Municipal de Coimbra."
(local habitual de encontro)

Dei os últimos retoques no cabelo e na maquilhagem, calcei-me e enfiei-me no carro. Estacionei perto da Praça da República e depois desci a avenida até à Câmara.
Quando ia a descer, lembrei-me de ver se tinha trazido o telemóvel, então pus-me a revirar a mala de alto a baixo e não tomei atenção nenhuma ao caminho. Até que bati com toda a força contra um rapaz.

- Desculpe.

Apressei-me eu a dizer e senti o meu cérebro a desligar mal o meu olhar cruzou com o dele. Apercebi-me que estava com cara de parva quando ele respondeu:

- Não há problema.

Fez um largo sorriso e continuou o seu caminho. Ainda fiquei uns largos segundos a olhar para ele a afastar-se, até que abanei a cabeça, pisquei os olhos várias vezes, respirei fundo e continuei à procura do telemóvel.
Finalmente, encontrei o telemóvel, já estava mais descansada, não me apetecia nada voltar ao carro para o ir buscar. Cheguei à Câmara e já lá estava um pessoalzito, algum conhecido, outro que nunca tinha visto na vida. Analisei todas as pessoas que ali estavam e encontrei a Inês que estava sentada a falar ao telemóvel. Dirigi-me a ela e ainda a ouvi dizer:

- Está bem, mas não demores muito.

Desligou o telemóvel e pus conversa com ela:

- Então quem era?
- A Cátia. Eu passo-me com esta gaja. Ela é que organiza, mas é sempre a última a chegar.
- Não stresses, ganhas rugas.
- Sabes quantos gajos é que ela anda a comer?
- Ãh? Ela anda a comer mais do que um gajo ao mesmo tempo?
- Sim, pelas minhas contas são quatro e estão todos aqui.
- Estás-me a dizer que ela convidou os gajos todos que anda a comer para vir ao mesmo jantar?
- Nem mais.
- Quem são eles?
- Aquele de cabelo preto aos caracóis, o gajo que está aqui atrás de mim, aquele com o casaco de cabedal e... outro que estava aqui à bocado, mas já não sei dele.
- Deve ter ganho juízo e fugiu.
- Era o que ele fazia melhor.

Ficámos em silêncio durante algum tempo, a olhar para o pessoal que ali estava. Eu não conhecia maior parte e havia gente que só conhecia de vista. Entretanto, lembrei-me do rapaz que tinha levado um valente encontrão meu e decidi contar à Inês. Ela sorriu e perguntou:

- Mas como é que ele era?
- Só me lembro de desligar quando fixei os olhos dele. De resto só sei que tinha um cachecol às riscas.
- Sim, o cachecol caracteriza muito bem o rapaz.
- Não tenho culpa de ter desligado naquele momento.

Entretanto, chegou o resto do pessoal e a Cátia. Fomos então para o restaurante e eu fiquei ao lado da Inês, porque era a única pessoa que tinha mais confiança no meio daquela gente toda. Perguntei à Inês num tom de brincadeira:

- Então? Quem é que vais comer?
- Sei lá eu?
- Vamos analisar a mesa. Feio, feio, feio, mais ou menos, feio, feio, feio...

Voltei a sentir o meu cérebro a desligar.

- Inês, está ali o gajo.
- Qual gajo?
- O rapaz do cachecol às riscas.
- Aquele ali ao fundo da mesa de cachecol?
- Sim, esse mesmo.
- Oh Dani, aquele é o outro gajo que a Cátia anda a comer.


(continua)

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